domingo, 9 de fevereiro de 2014

Agricultores pernambucanos conhecem experiência de beneficiamento de frutos do bioma caatinga com gestão cooperativista na terra dos vagalumes, Uauá - Bahia.

Nos dias 05, 06 e 07 de fevereiro, o Polo Sindical dos Trabalhadores/as Rurais do Submédio São Francisco – PE/BA realizou um intercâmbio interestadual na cidade de Uauá/BA. Esta atividade fez parte das metas do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) do Termo de Parceria (TP) celebrado com a Petrobras e teve como objetivo propiciar o conhecimento das experiências exitosas da Cooperativa Agropecuária familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC) e a troca de experiências entre os agricultores/as familiares pernambucanos e baianos no campo do beneficiamento de frutos do bioma Caatinga com gestão cooperativista sustentável e solidário.

O grupo pernambucano foi recepcionado pelo Coordenador Jussemar que agradeceu a visita e apresentou a sugestão de programação do intercâmbio. Com o acompanhamento do técnico Admilson, foi feito a primeira visita à comunidade Lages das Aroeiras, a 20 km do Centro, onde está localizada uma das 15 Unidades de Processamento de Frutas da Cooperativa. Atualmente, 05 agricultoras familiares desenvolvem suas atividades nesta Unidade e são coordenadas por dona Analice, umas das primeiras mulheres a abraçar o projeto.

Esta Unidade beneficia, principalmente, o maracujá do mato e o umbu, produzindo geleias, doces e compotas. Admilson explica que nestas mini-fábricas trabalham entre 05 e 27 pessoas, sendo que os “cabras machos” não se envolvem muito na produção por exigir paciência, cuidados especiais, limpeza das panelas, etc.., ficando quase sempre a cargo das mulheres e dos jovens esta atividade. No entanto, não há preocupação da Coopercuc quanto a esta ausência, pois, a autonomia financeira das mulheres no sertão reforçam o objetivo do projeto e os homens já estão envolvidos com o plantio e colheita dos frutos no roçado.

Na oportunidade, os visitantes conheceram uma cisterna-enxurrada e a experiência de dona Analice com os canteiros econômicos (utilizando lona e tubos PVC) e o uso de adubos orgânicos. “Depois desta cisterna nunca mais faltou as nossas verduras fresquinhas. Nos primeiros anos fiz muita coisa, dava a minha família e ainda vendia na comunidade. Aqui não usamos veneno em nada!”, disse dona Analice. Os agricultores também conheceram uma área com o plantio do maracujá do mato, que segundo o técnico Admilson, as mudas foram doadas pela Embrapa de Petrolina-PE que é parceira da COOPERCUC.


Na sede da Associação Comunitária Agropastoril dos Pequenos Produtores de Lages das Aroeiras (ACAPPLA) houve um momento de debate sobre as experiências apresentadas e os visitantes ouviram atentamente as informações a respeito da organização dos trabalhadores/as na região na década de 80, iniciada com a formação pastoral da igreja católica através das freiras no trabalho com as mulheres do campo, no incentivo às comidas alternativas, à libertação do machismo, etc... Falou ainda dos investimentos nas Unidades de Beneficiamento através do PROCUC (Programa Canudos – Uauá e Curaçá) criado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) de Juazeiro/BA; sendo financiado o material pela Comunidade Europeia  e a construção através de mutirão.

Com o apoio do programa PROCUC, em 2002, veio o sucesso com os produtos orgânicos das agricultoras (no início 20 mulheres) que participaram da Feira Nacional dos Agricultores/as Familiares em Juazeiro-BA, e a partir daí, começaram a vender os produtos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Lei nº 11.947/2009) que garante a compra de no mínimo 30% de produtos originários da agricultura familiar para compor a merenda escolar e o PAA – Programa de Aquisição de Alimentos que beneficia a população em risco alimentar e nutricional (INSAN); dando com isso, um salto fundamental para a criação da Cooperativa em 2004. 

Atualmente, a COOPERCUC conta com 242 cooperados nos três municípios, em sua maioria mulheres, que produzem deliciosos doces, geleias, compotas, trabalhando a produção ecológica, economicamente viável, socialmente justa e solidária como complementação da renda familiar, contribuindo assim, para o fortalecimento da agricultura familiar e viabilizando o aproveitamento das frutas nativas da caatinga – umbu e maracujá do mato. Para Adimilson “O maior investimento da COOPERCUC está na formação humana".

Após uma deliciosa geleia de maracujá do mato oferecida por dona Analice, a delegação pernambucana se dirigiu à Unidade de Beneficiamento Matriz, localizada no centro da cidade de Uauá-BA, onde foi recebida por dona Benedita, Diretora financeira da Cooperativa. Ela apresentou as estruturas físicas da fábrica e a lojinha com os produtos orgânicos. Falou da fabricação, comercialização e distribuição dos produtos orgânicos e destacou a importância do envolvimento de todos os cooperados e trabalhadores/as no processo. “Quem tem que assumir a dianteira das organizações são os próprios agricultores/as e este é um dos motivos da COOPERCUC alcançar os êxitos desejados”, disse.


Para José Tenório, a Cooperativa “é um exemplo prático da dicotomia teoria x prática, pois, o mundo todo, o Brasil inteiro fala de sobrevivência e convivência com o Semiárido, já a COOPERCUC se preocupa em colocar em prática, aí pronto, se destaca e se torna esse sucesso todo!”, disse. Para José Osivan, Diretor do Polo Sindical, a COOPERCUC “é como uma luz que brilha pra todo nordeste”.

Apesar das dificuldades que existem, principalmente burocracia, a COOPERCUC é referencia em todo o Brasil, Certificada pelo ECOCERT Brasil, e também no Exterior, vindo a receber o Certificado da Municipalidade de DUBAI pelo prêmio "Melhores Práticas". Através da linha Gravetero, a Cooperativa comercializa seus produtos nos mercados mais sofisticados do Brasil, por exemplo, na Rede Pão de Açúcar em São Paulo-SP e exporta para Itália, França e Áustria.


Satisfeitos com o que viram, ouviram e discutiram, os participantes do intercâmbio agradeceram a atenção dispensada pela Direção, técnicos e agricultores familiares de Uauá-BA, e, antes das despedidas, resolveram encher as sacolas com os produtos orgânicos à venda na lojinha da Cooperativa.

Avaliando...
 “Estou levando para a minha comunidade estes novos conhecimentos que irei repassar para os demais, como aproveitar as frutas da caatinga, principalmente, Umbú”. Agricultora Maria Cícera – Inajá/PE

 “Estou muito satisfeita, porque o conhecimento que eu fui buscar eu venho trazendo. Tive a oportunidade de conhecer pessoais especiais que tiveram o prazer de passar pra nós como aproveitar as frutas da nossa região”. Nilza, agricultora de Inajá/PE.

“Cabe a cada agricultor/as cultivar, agarrar as oportunidades dos projetos desenvolvidos Polo Sindical na região e fazer com que os conhecimentos adquiridos possam dar bons frutos”. Izabel Cristina - (Aux. Administrativo - P1+2)

 “Sou agricultora familiar com muito orgulho. Eu nem sabia que fazia suco com aquele maracujá do mato, mas fiquei sabendo. Enfim fiquei muito satisfeita com este intercâmbio”. Agricultora Zenilda - Inajá/PE

 “A gente vê que a nossa caatinga tem muita diversidade e a gente perde muito por falta de conhecimento, e lá (Uauá) nós vimos como aproveitar. O meu desejo é que alguém que esta aqui possa dar o passo inicial e se destacar". Técnico Hildeberto - (Agente Social-P1+2).

 “Eu não sabia que o maracujá do mato servia para alguma coisa, porque eu já arranquei muito maracujá para jogar fora e agora com essas informações eu não faço mais”. Rita – Comunidade Tapera - Inajá/PE.

“Foi muito importante ver aquela cisterna-enxurrada produzindo e o nosso prazer é saber que os nossos agricultores também irão produzir a partir das cisternas fruto do nosso trabalho nas comunidades”. Técnico Jailson Cruz - (Agente Social-P1+2).

“Essa viagem foi importante porque nós vimos uma experiência que tem dado certo em uma região semiárida muito parecida com a nossa. A planta nativa é praticamente a mesma. Lá eles conseguiram avançar muito no campo da organização, da união, do cooperativismo e estão conseguindo resultados sociais interessantes, um grau de conscientização muito forte, construindo cidadania, valorizando o ecossistema, preservando o meio ambiente e criando dignidade às famílias de agricultores/as rurais. É uma experiência exitosa, brilhante e uma grande lição pra gente, um exemplo vivo, prático e a gente tem como ajudar os nossos companheiros de Pernambuco a seguir este exemplo de Uauá, Canudos e Curaçá, na Bahia”. José Osivan -  Secretário Executivo do Polo Sindical.

Por Josiel Araújo
Comunicador

Um comentário:

José Osivan Barbosa de Lima disse...

Essa troca de experiência é importante porque fica claro pra nós do sertão de pernambuco e porque não dizer de todo semiárido brasileiro, que é possível seguirmos esse exemplo e de forma organizada industrializarmos as nossas frutas. Com certeza a agricultura familiar tem um grande potencial por isso precisamos aproveitá-la melhor. Os nossos agricultores familiares precisam de mais apoio do governo para a agroindústria