terça-feira, 29 de outubro de 2013

Intercâmbio Intermunicipal: Ampliando saberes, trocando experiências e fortalecendo a Agricultura Familiar.

Por Josiel Araújo - Comunicador do Polo Sindical

Apresentação dos agricultores/as e
expectativas
Com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar a partir da troca de experiências e saberes entre os agricultores/as em torno das práticas agroecológicas e agroflorestal, o Polo Sindical dos/as Trabalhadores/as Rurais do Submédio São Francisco promoveu nos dias 25 e 26 de outubro um Intercâmbio Intermunicipal entre os agricultores/as de Inajá, Belém do São Francisco e Carnaubeira da Penha, municípios que fazem parte da área de atuação do Polo, com agricultores da cidade de Serra Talhada/PE. Vale salientar que estes trabalhadores/as acessarão as tecnologias sociais de produção, como: cisterna calçadão, barreiro trincheira, cisterna enxurrada e barragem subterrânea do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) através do Termo de Parceria (TP) com a Petrobras.

Para garantir a realização deste encontro entre agricultores/as, o Polo Sindical contou com parceria da Secretaria de Agricultura Familiar do Município de Serra Talhada, nas pessoas do Secretário José Pereira de Souza (Zé Pereira), da Diretora Ana Bezerra Mourato Cordeiro (Ana Mourato), dos Técnicos Agrícolas Rogildo e Claudevan e demais colaboradores da Secretaria. O Técnico em Meio Ambiente, Gilberto também contribuiu com o intercâmbio. A organização e articulação do evento ficou por conta da equipe do P1+2, coordenada por Sandro Rogério que se fez presente com demais membros: Izabel Cristina - Aux. Administrativo; Josiel Araújo - Comunicador; Jailson Cruz e Josévanio agentes sociais do programa. O coordenador do P1MC/Polo José Dionízio também participou do intercâmbio contribuindo com seus conhecimentos na área técnica e prática como agricultor familiar no Projeto Brígida, Orocó-PE.

Após o café da manhã na casa da senhora Eunice Maria de Lima na Comunidade Fazenda Angico Grande, os participantes marcharam para o sítio do senhor Maurício e dona Cristiana e visitaram a experiência destes agricultores com a produção de hortaliças e frutíferas no sistema agroecológico e agroflorestal desenvolvido com êxito na propriedade da família, uma das 193 famílias beneficiadas com o Projeto “Canteiro de Latada” e acompanhadas pelos técnicos. “Queremos mostrar que o nordestino, mesmo em ano de seca consegue viver plantando com pouca água produtos orgânicos, e, além de plantar para a alimentação familiar, também pode ser repassada para o PAA, onde a prefeitura compra a produção dos trabalhadores/as familiares”, diz o Secretário Zé Pereira.


Debaixo de um frondoso e sombroso "pé de mangueira", os participantes se apresentaram e falaram das suas expectativas. Em seguida, o grupo se dividiu em dois subgrupos, e, cada um, acompanhado por um técnico, visitou a propriedade. Dentre as informações recebidas e trocadas entre os agricultoras/as, destacam-se: Melhor maneira de fazer podas nas plantas, as ferramentas necessárias e a esterilização das mesmas; cobertura morta; produção e uso do biofertilizante (defensivos naturais); aproveitamento dos espaços; rotação de cultura; bancos de sementes; preservação das matas ciliares; controle natural de pragas, etc..

O plantio de uvas sem uso de agrotóxicos na propriedade despertou a curiosidade dos participantes, sendo esclarecido pelo senhor Maurício que foi implantado por um dos seus irmãos que trabalhou 05 anos nos parreirais de Petrolina e aprendeu o manejo, “e vimos que dá certo”, conta. Os técnicos também explicaram que o clima e a terra da região do sertão são propícios para o plantio. A família usa um motor à diesel para puxar água de uma cacimba e faz a irrigação com um sistema de microaspersão com gotejamento, usando na ponta do aspersor sacolinhas plásticas para garantir a molhação e controlar o desperdício de água. Outra experiência na aguação das plantas é o gotejamento com um furo no pote feita pelo senhor Maurício José de Lima, pai de Maurício.


Para Adimilson Nunis, Coordenador do Polo Sindical e agricultor familiar que acompanhou os agricultores/as, esse é um grande exemplo de dedicação e trabalho coletivo da família e das parcerias com governos comprometidos com a sobrevivência trabalhadores/as em equilíbrio com a natureza. “Ficamos felizes em trazer os nossos agricultores/as para conhecerem experiências como essas e esperamos que num futuro próximo, as nossas famílias que acessarão as tecnologias de produção possam receber visitas (intercâmbios) de outros agricultores para aprenderem da mesma forma que aprendemos hoje”, enfatiza.

O grupo foi recebido na parte da tarde na casa de dona Nilma que mora no Assentamento Poldrinhos e serviu um delicioso almoço. Ela falou da sua luta e apresentou sua experiência com a produção orgânica no quintal de sua casa utilizando água de um poço. Dona Nilma enche garrafas peti, faz um furinho na tampa e deixa molhando a planta o dia todo; com isso, ela garante a molhação e faz economia de água. “Não podemos ficar parados só porque não tem chuva, temos que lutar; e vai ficar melhor, se Deus quiser, quando chover e encher a minha cisterna calçadão que está aqui na frente de casa, pois, vai facilitar muito”, conta dona Nilma.

Os participantes agradeceram à gentileza e a receptividade da agricultora Nilma e se deslocaram até o Viveiro de mudas da secretaria de agricultura de Serra Talhada/PE, sendo recebidos pelo Secretário Zé Pereira, Ana Mourato, pelo técnico Rogildo e pela senhora Zefinha que há 09 anos trabalha na sementeira do viveiro. O objetivo da visita foi conhecer o trabalho desenvolvido, conhecer a diversidade das mudas produzidas, as propriedades e benefícios das plantas e também trocar sementes por mudas. Quanto aos benefícios das plantas, os agricultores/as ouviram a história da recuperação do secretário Zé Pereira que estava de cama com dores durante 42 dias e se recuperou ao fazer uso do chá de pau-ferro. “Eu esta praticamente paralítico, e depois que comecei a tomar o chá, com três dias eu me levantei”, contou Zé Pereira.

No dia seguinte, logo cedo, o grupo de agricultores/as foi visitar a Feira Agroecológica de Serra Talhada, e, além de conhecer o trabalho dos produtores/as, puderam aproveitar para tomar um cafezinho num espaço criado com carinho pelos feirantes para na hora do descanso, “papearem.” Já na sede da Fetape de Serra Talhada/PE, os participantes conversaram com Gildete, atual Coordenadora da feira agroecológica há 05 anos. Iniciada em 2001 com o apoio das Entidades Cecor, Centro Sabiá, Adessu e o Sindicato de Santo Antonio da Baixa Verde. Após 6 anos de luta, conseguiram um local próprio para a feira e constituíram um Estatuto que organiza as entradas e saídas dos participantes e regulamenta as iniciativas e atividades organizadas e o Fundo Rotativo da Feira. Funciona aos sábados a partir das 5:00 horas da manhã. “A pesar das dificuldades que a feira tem, pois, trabalhar com pessoas não é fácil, a feira hoje está estruturada, tem uma boa relação com o poder público e os Sindicatos, têm um fundo rotativo para custear despesas e organizar as estruturas e realiza alguns eventos”, disse a coordenadora. Houve um momento para as dúvidas e perguntas que foram todas esclarecidas por Gildete.


Em sintonia com o momento de discussão em torno da feira agroecológica, o professor da Faculdade Federal de Serra Talhada João Amorim, que de 2003 à 2009 foi o Coordenador Nacional do Programa 1 Milhão de Cisternas Rurais, da ASA, falou aos agricultores/as de forma simples e direta sobre a importância do associativismo e cooperativismo. Para ele o associativismo tem fortalecido cada vez mais a sociedade brasileira nos processos de luta e garantias dos direitos. “Quanto mais nos envolvemos, melhor compreendemos a questão da alimentação, da comercialização, industrialização, da agroecologia, dos rebanhos, daqueles que perdemos com a estiagem, dos que estão magros agora; esse movimento todo, eu acredito e aposto que ele tem mais força, quando ele é discutido na Associação”, enfatiza João Amorim. Para Sandro Rogério, “o que importa no associativismo é o comprometimento e a cumplicidade que se tem que ter dentro da comunidade na hora de se resolver os problemas”. O professor falou ainda da descentralização do poder do Presidente, que em vez de ditar ou decidir, deve construir coletivamente os encaminhamentos e as reivindicações da comunidade. Houve interação e discussão do assunto pelos agricultores, inclusive a manifestação de uma das agricultoras presentes que disse que irá se associar ao sindicato local.


Por fim, foi feito uma breve avaliação do intercâmbio intermunicipal pelos agricultores e agricultoras participantes, pelos técnicos do Polo e da Secretaria de Agricultura de Serra Talhada/PE, destacando-se o conjunto de experiências visitas e a troca de saberes, a receptividade local, as interrelações (amizades construídas), os bons exemplos de trabalho familiar e coletivo e os esclarecimentos e informações em relação as formas de organizações da comunidade.

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